7 de novembro de 2008

Entrada proibido

Hoje cedo fui caminhando pegar o ônibus pro trabalho e me peguei pensando, distraído. Fazia muito tempo que não ficava assim, tranqüilo. Inclusive se considerar a irritação da noite anterior.


E passei em frente a porta do cemitério. Onde se lia um cartaz: “É proibido a entrada de animais”. Imediatamente achei graça naquilo, mas me incomodou um pouco também. Tenho essa mania chata de me incomodar com escritos errados. Já contei da vez que a lojinha perto de casa estava vendendo um alquímen? Pois é, um alquímen. Aquilo me incomodou um bocado. Diz a regra que, quando existe um artigo precedendo a palavra "entrada", o "proibido" concorda com o gênero. Ou, trocando em miúdos, o certo seria "É proibida a entrada", fosse de quem fosse.


Deu uma vontade grande de pichar ali, a placa. Pensei na comoção que isso não ia causar. As pessoas se reunindo em torno da placa, discutindo sobre como aquilo era um absurdo, os jovens não respeitam mais nada, uma velhinha desmaiaria depois de se exaltar e alguém soltaria uma frase espertinha como “nem os mortos têm paz”, esperando que as pessoas percebessem a inteligência do que ele disse. Escreveriam pros vereadores em quem votaram recentemente e pediriam uma ação pra corrigir aquela delinqüência sem vergonha. E um vereador recém-eleito aproveitaria a oportunidade pra se destacar na comunidade e iria falar que não só o portão, mas toda a fachada merecia uma reforma. Que nossos ancestrais devem ser valorizados e ele próprio colocaria uma rosa no túmulo do avô, que “tanto o ensinou sobre a vida e agora olha por ele todos os dias”.


Mas ninguém, ninguém mesmo ia comentar que o texto só tinha ficado certo daquele jeito.


Ninguém, além dos mortos.


E acabo de perceber que faz mais tempo que não fico tranqüilo do que faz tempo que não escrevo aqui. Uau.